
Bullying escolar – O peso invisível de Joana
Relações tóxicas e guerras psicológicas – Parte III

De acordo com a UNESCO, uma em cada três crianças é vítima de bullying escolar.
A Joana caminhava pelos corredores da escola com a cabeça baixa, os olhos evitando qualquer contato direto. As risadas abafadas e os cochichos constantes eram como facas invisíveis, cortando a sua confiança.
“Olha só quem chegou… a menina que não sabe se defender”, troçavam alguns colegas.
A cada insulto, Joana se sentia menor, carregando um peso que parecia ser muito maior do que ela mesma. Mas aquele peso não tinha começado ali, na escola. Ele vinha de casa, silencioso, impercetível, mas sempre presente. A Joana agora sofre de bullying escolar.
“Ninguém te pode fazer sentir inferior sem o teu consentimento.”
Eleanor Roosevelt
A Raiz do Bullying escolar: Como a Dinâmica Familiar Influencia a Autoestima das Crianças
O bullying escolar que Joana enfrentava na escola era apenas o reflexo de uma realidade que se construíra desde sua infância. Filha de um casal marcado por relações tóxicas e pelo Triângulo Dramático (Leia este artigo), Joana cresceu absorvendo padrões que minavam a sua autoestima.
O seu pai, João, carregava traumas de uma infância com uma mãe controladora e manipuladora, o que resultava em ataques de ansiedade e explosões emocionais. Mimado e pouco preparado para lidar com a frustração, ele transferia a sua insegurança para o ambiente familiar. Já a sua mãe, Maria, se encaixava no papel clássico de “salvadora”, colocando as necessidades de todos à frente das suas e esquecendo-se de si mesma. Com baixa autoestima, ela tentava constantemente “arrumar” os problemas do marido e manter a família de pé, mas às custas de seu próprio bem-estar.
Esse ambiente disfuncional impactou diretamente Joana. Crescendo num lar onde as emoções eram mal geridas, onde o amor vinha carregado de culpa e dependência emocional, ela aprendeu a ser invisível, a não se defender e a acreditar que não era suficiente. E foi exatamente essa vulnerabilidade que a tornou um alvo fácil para o bullying escolar.
O Ciclo do Bullying e a Criança Interior
Muitos pais não percebem que as suas próprias feridas emocionais são transferidas para os seus filhos. A criança interior ferida de João e Maria influenciou diretamente a forma como Joana se via a si mesma e interagia com o mundo.
Na escola, ao se deparar com colegas que reforçavam suas inseguranças, ela não sabia como reagir. O medo de desagradar, a dificuldade em impor limites e a necessidade de aceitação faziam com que ela se calasse diante das agressões verbais.
Essa dinâmica não é incomum: crianças que crescem em ambientes emocionalmente instáveis tendem a desenvolver padrões de submissão e baixa autoestima, tornando-se alvos fáceis de abuso, seja na infância ou na vida adulta.
“Até que você torne o inconsciente consciente, ele dirigirá sua vida e você o chamará de destino.”
Carl Jung
Quebrando o Ciclo: Como os Pais Podem Ajudar
Se João e Maria desejam realmente ajudar Joana, precisam primeiro olhar para dentro de si mesmos e curar suas próprias feridas emocionais. Algumas estratégias fundamentais incluem:
- Trabalhar a própria autoestima – Os pais são modelos para seus filhos. Se Maria aprender a se valorizar e a impor limites, Joana, como resultado também aprenderá.
- Ensinar habilidades sociais – Ajudar a filha a ser mais assertiva e a expressar suas emoções pode assim fortalecê-la contra o bullying escolar.
- Criar um ambiente seguro em casa – Quando a criança sente que tem suporte emocional dentro de casa, logo ela ganha mais confiança para enfrentar desafios externos.
- Procurar ajuda profissional – Terapia familiar ou individual pode ajudar tanto os pais quanto a Joana a reconstruírem sua autoestima e dessa forma quebrarem padrões nocivos
Conclusão: O Futuro de Joana
Joana ainda pode superar essa fase e reconstruir a sua autoestima, mas para isso, precisa que os adultos à sua volta assumam a responsabilidade de criar um ambiente mais saudável. O bullying na escola é um sintoma de algo mais profundo e contudo, ao tratar a raiz do problema, é possível transformar a dor em crescimento.
Ao final, a história de Joana não precisa assim ser uma repetição das dores dos seus pais. Com amor, apoio e autoconsciência, ela pode aprender a se defender, a se valorizar e, acima de tudo, a entender que nunca esteve errada por ser quem é.
“A maior glória em viver não está em nunca cair, mas em levantar-se toda vez que caímos.”
Nelson Mandela