Relações tóxicas e guerras psicológicas Parte II – A mãe tóxica

João começou o dia de trabalho com crises de pânico e ansiedade. Eram 9h da manhã quando, mais uma vez, a mãe, Diolinda, lhe ligou pela terceira vez, perguntando se ele já tinha bebido o iogurte líquido que lhe mandara. Diolinda, por sua vez, controla João de hora a hora, interferindo até nas suas relações pessoais. Foi assim que João acabou por se separar de Maria, por causa de ser incapaz de suportar a pressão constante. Por conseguinte, João chegou a casa mais cedo, pois o seu chefe o mandou embora devido ao seu estado emocional instável. Ao abrir a porta, ouviu a voz fria da mãe: “Sempre me desiludiste, João. Nunca serás capaz de fazer nada sem mim”.
Estamos na presença de uma mãe tóxica ( História fictícia com começo no artigo – Relações tóxicas e guerras psicológicas)
Ser mãe é uma experiência inexplicavelmente boa e empoderadora, marcada pelo crescimento emocional e pela aquisição de maturidade. Ademais é descobrir forças e fraquezas, aprimorar o autoconhecimento e o conhecimento dos outros, e contactar com um amor profundo para a vida, em suma, para muitas mulheres, é a verdadeira entrada na maturidade. No entanto, nem todas conseguem gerir esta experiência de forma saudável e equilibrada.
O que é uma mãe tóxica.
Muitas mães, devido às suas próprias desestruturações e desequilíbrios, transferem essa dor para a relação com os filhos, muitas vezes sendo vítimas de mães desestruturadas também. Uma mãe tóxica é aquela que, intencionalmente ou não, adota comportamentos e atitudes prejudiciais para os seus filhos. Em vez de proporcionar um ambiente de apoio e amor, estas mães criam um ambiente de negatividade, manipulação e abuso emocional. A toxicidade pode manifestar-se de várias formas, desde críticas constantes até comportamentos de controle excessivo.
“O estado parental é a única instituição que obriga o indivíduo a amar o seu opressor.”
Sigmund Freud
Como Identificar este tipo de mães e Suas Características de Linguagem
Identificar uma mãe tóxica pode ser desafiador, especialmente porque o amor e o respeito que sentimos pelas nossas mães podem obscurecer a realidade
A Mãe Crítica: A mãe crítica é aquela que encontra defeitos constantes nos seus filhos, independentemente do que eles façam. Em vez de oferecer encorajamento e apoio, ela foca-se em apontar falhas e imperfeições, minando a autoestima e a confiança dos filhos. Este comportamento pode levar os filhos a desenvolverem um senso de inadequação e a sentirem que nunca são suficientemente bons, o que afeta negativamente o seu bem-estar emocional e a capacidade de enfrentar desafios na vida.
A Mãe Narcisista: A mãe narcisista é aquela que vê os filhos como extensões de si mesma, isto porque, espera que eles atendam às suas necessidades e expectativas acima de tudo. Assim sendo, ela procura constantemente atenção, admiração e validação, muitas vezes às custas dos sentimentos e desejos dos filhos, por conseguinte, este tipo de mãe pode ser manipuladora, crítica e incapaz de reconhecer os sucessos ou dificuldades dos filhos sem se sentir ameaçada ou negligenciada. Assim sendo, os filhos frequentemente desenvolvem baixa autoestima e têm dificuldade em estabelecer uma identidade própria.
A Mãe Controladora: A mãe controladora é aquela que tenta exercer um domínio excessivo sobre todos os aspetos da vida dos seus filhos. Ela impõe as suas próprias expectativas e decisões, muitas vezes ignorando os desejos e necessidades dos filhos. Este comportamento sufocante pode impedir os filhos de desenvolverem autonomia e confiança, levando-os a sentir-se constantemente monitorizados e incapazes de tomar as suas próprias decisões.
Uma mãe pode ter uma destas características em especifico, algumas delas intercalando-se, ou todas em conjunto.
A Mãe ausente: é aquela que, devido a motivos emocionais, psicológicos ou circunstanciais, está fisicamente presente mas emocionalmente distante. Assim sendo, ela pode ser indiferente às necessidades emocionais dos filhos, negligenciando o seu desenvolvimento afetivo e deixando-os sentirem-se invisíveis ou desvalorizados. Esta ausência emocional pode resultar em sentimentos de abandono e insegurança, levando os filhos a terem dificuldades em formar relacionamentos saudáveis e a lidar com a autoestima.
A mãe super protetora: é aquela que, com a intenção de proteger o filho de qualquer dano ou dificuldade, acaba por sufocar o seu crescimento e independência. Este tipo de mãe tende a controlar todos os aspetos da vida do filho, desde as escolhas pessoais até às decisões académicas e profissionais. Embora a intenção seja geralmente positiva, a superproteção pode, no entanto, impedir o filho de desenvolver habilidades essenciais para enfrentar desafios e, além disso, resolver problemas por si mesmo. Consequentemente, isso resulta em dependência e, além do mais, falta de confiança e medo excessivo.
A mãe amiga: é aquela que procura ser mais uma companheira do que uma figura de autoridade. Assim sendo, ela tende a tratar o filho como um igual, partilhando segredos, preocupações e procurando constantemente a sua aprovação e amizade. Embora isso possa criar uma ligação próxima, por pode também levar a uma falta de limites claros e a inversão de papéis, onde o filho se sente sobrecarregado pela necessidade de apoiar emocionalmente a mãe, em vez de receber orientação e estrutura.
A mãe super protetora e a mãe amiga geralmente são pessoas inseguras, elas próprias com baixa autoestima. A sua intenção e amor pelos filhos são em regra geral extremamente positivos, no entanto, torna-se um impedimento ao seu desenvolvimento normal como adultos.
A mãe vítima: é aquela que constantemente se apresenta como a mártir ou sofredora em todas as situações. Ela tende a dramatizar os seus problemas e a culpar os outros, especialmente os filhos, pelos seus infortúnios. Contudo este comportamento manipula emocionalmente os filhos, fazendo-os sentir culpa e responsabilidade pelos problemas da mãe. Como resultado, os filhos podem crescer sentindo-se sobrecarregados com a necessidade de “salvar” a mãe e carregando um peso emocional indevido.
Um pai também pode apresentar este tipo de características tonando-se um pai tóxico, no entanto sendo mãe o impacto psicológico nos filhos é maior. “Mãe é mãe”
“Quando você sente que a sua mãe não gosta de você, isso faz com que você pense que você não vale nada.”
Augusten Burroughs
Principais Características de Linguagem:
Críticas Constantes:
“Nunca fazes nada direito.”
“Porque não podes ser mais como [alguém]?”
Culpa e Manipulação:
“Depois de tudo o que eu fiz por ti, é assim que me agradeces?”
“Se me amasses de verdade, não farias isso.”
Minimização e Desvalorização:
“Estás a exagerar, isso não é nada.”
“Não sejas tão sensível.”
Controle Excessivo:
“Eu sei o que é melhor para ti.”
“Não podes sair de casa vestida assim.”
Comportamento Passivo-Agressivo:
“Claro, faz o que quiseres, eu não me importo.”
“Não, está tudo bem, eu só pensei que te importavas comigo.”
Invasão de Privacidade:
“Eu li o teu diário porque estou preocupada contigo.”
“Vou vasculhar o teu quarto, não tens nada a esconder, certo?”
Expectativas Irrealistas:
“Tens que ser o melhor em tudo.”
“Não me dececiones.”
Comparações Desfavoráveis:
“Porque não és mais como o teu irmão/irmã?”
“Os filhos da «vizinha» fazem muito melhor que tu.”
Sarcasmo e Ridicularização:
“Estás mesmo a tentar fazer isso? Boa sorte!”
“Sim, claro, como se fosses conseguir.”
Negação dos Sentimentos:
“Não tens motivos para estar triste.”
“Para de chorar, não é nada.”
Como enfrentar sem prejudicar a relação.
Lidar com uma mãe tóxica sem danificar completamente a relação é um desafio delicado. Assim sendo, aqui estão algumas estratégias:
Estabeleça Limites: Seja claro sobre o que é aceitável e o
que não é. Limites saudáveis são essenciais para proteger o seu bem-estar
emocional.
Comunique-se com Clareza: Expresse os seus sentimentos e necessidades de forma assertiva, mas respeitosa.
Procure Apoio: Converse com amigos, familiares ou um
terapeuta sobre a situação. Apoio externo pode oferecer perspetivas valiosas e
estratégias de enfrentamento.
Autocuidado: Priorize a sua saúde mental e emocional.
Encontre atividades que lhe tragam alegria e paz.
A Perspetiva da Terapia: A Mãe Tóxica e Seus Traumas.
Muitas vezes, mães tóxicas também carregam os seus próprios traumas e problemas não resolvidos. Elas podem projetar estas questões nos filhos de forma inconsciente. Compreender que a toxicidade pode ter raízes em experiências traumáticas pode ajudar a abordar a situação com mais compaixão e menos ressentimento.
A terapia oferece um espaço seguro para explorar e entender as dinâmicas familiares tóxicas. Benefícios incluem:
Autoconhecimento: Ajudar a entender como a relação com a sua mãe o afetou.
Desenvolvimento de Estratégias: Fornecer ferramentas para lidar com a toxicidade de maneira saudável.
Cura Emocional: Trabalhar os próprios traumas e aprender a estabelecer limites.
Conclusão
Reconhecer e lidar com uma mãe tóxica é um processo desafiador, por conseguinte essencial para o bem-estar emocional e psicológico. A terapia e a Hipnoterapia pode ser uma ferramenta poderosa para navegar nestas águas turbulentas, promovendo o bem estar e o crescimento pessoal. Se sente que está a ser afetado por comportamentos tóxicos, considere procurar a ajuda de um profissional. A sua saúde mental e felicidade merecem ser priorizadas, principalmente a dos seus futuros filhos.
“Nada tem uma influência psicológica mais forte sobre o meio ambiente, e especialmente sobre os filhos, do que a vida não vivida dos pais.”
Carl Jung